O mundo pertence a quem lê

Quando entra numa livraria, para qual secção se dirige inconscientemente?
Toda a gente gosta de ler, os que dizem que não gostam ainda não encontraram o género literário certo para a fase da vida em que estão.
Sempre li muito, mas quando andava na faculdade culpava a falta de tempo pela perda desse hábito, quando na realidade estava numa fase de transição. Acredito que todos passamos por fases na nossa vida e, juntamente com isso vem a alteração dos nossos hábitos e gostos de leitura.
A altura em que menos li por prazer foi quando mais li por obrigação, durante o curso de Direito, quando Twilight ainda nem sequer era moda, essa foi uma altura de transição na minha vida em que deixei de apreciar os livros de ficção infantojuvenis (depois de ler toda a saga dos vampiros Cullen, obviamente), mas ainda não tinha maturidade suficiente para apreciar obras de Araki Murakami ou de Robert T. Kiyosaki.
O nosso ensino, quer no secundário quer no ensino superior, está direcionado para a memorização a curto prazo, o que retira o prazer pela leitura descontraída e coloca toda uma pressão desnecessária nos jovens. Se olharmos para trás todos conseguimos, provavelmente, ser capazes de perceber que o melhor aluno era o que tinha a maior capacidade de memorização, ninguém se importava em saber se os estudantes tinham ou não assimilado devidamente a informação e se as leituras tinham efetivamente desenvolvido o raciocínio lógico dos mais jovens.
A nossa sociedade (e o sistema de ensino) induz-nos em erro ao incutirem nos jovens que o principal objetivo de uma leitura é a memorização de teorias, histórias e citações.
Nos tempos atuais, o papel de armazenamento de informação já pertence a internet, e todos temos um acesso imediato e fácil na palma das nossas mãos. Portanto, é completamente inútil retirar o entusiasmo dos jovens leitores pela obrigação de manter arquivos mortos nas nossas mentes.
O papel de memorizar informação tem um valor muito pequeno quando o comparado com a transformação que a leitura faz no nosso modo de pensar e de ver o mundo.
Muitos são os estudos que comprovam que o hábito de ler, e não de memorizar, cria novas conexões neurais, moldando a maneira como pensamos, mas ainda assim as escolas ensinam que memorizar é sinónimo de melhores notas.
Acredito que a leitura é uma ferramenta que serve para modificar o modo como o nosso cérebro opera, isto é, depois de adotarmos o hábito de ler conseguimos mais facilmente compreender diferentes pontos de vista e passamos a ser mais criativos em encontrar soluções para os problemas. Isto porque a leitura nada mais é do que um treinamento que permite ao nosso cérebro desenvolver capacidades cognitivas que de outro modo poderíamos demorar décadas para alcançar.
O maior contributo que podemos retirar da leitura de um bom livro não é a quantidade de citações, técnicas, história ou notas de rodapé que somos capazes de memorizar (perceberam a direta, Caros Senhores Doutores Professores de Direito?), mas antes a transformação positiva que ocorre no nosso pensamento, na nossa maneira de ver o mundo e nas estratégias a que recorremos para solucionar problemas.
Sendo a transformação de como pensamos o grande objetivo da leitura, não é de estranhar que ao ler adquirimos um maior número de bases de referências que serão utilizados no processo cognitivo.

Depois de perder a cabeça durante anos seguidos nas Feiras do Livro, e de ter comprado várias obras que acabavam por ficar esquecidas na estante, comecei a sair da minha “caixinha literária” e explorar outros estilos, inicialmente recusava-me a deixar um livro a meio. Mas quando comecei a dar conta do tempo que perdia a ler algo insignificante, com uma mensagem ultrapassada ou simplesmente com a qual não me identificava, senti-me livre.
Porque temos esse pensamento ultrapassado de que temos que acabar tudo o que começamos mesmo sendo uma leitura penosa?! Quando me desprendi desse mindset ganhei asas… li de tudo um pouco: autores da moda, romances tórridos, terror sangrento, autoajuda desesperada, finanças e investimentos, thriller psicológicos, poesia lamechas e biografias esquizofrénicas, tendo ainda experimentado diferentes metodologias de leitura e recursos (como ebook e audiobook). Nem todos li do início ao fim, antes pelo contrário, tive que ler um pouco de tudo senão não teria como encaixar tempo para descobrir do que realmente gostava.

Os que li do início ao fim ostento orgulhosamente na minha lista de “read” no goodreads, que totalizam 100 nesta data, mas a lista de “want to read” é beeeem mais extensa… 536 obras!
Não sei se viverei tempo suficiente para ler tudo mas enquanto tiver livros por ler na minha estante não passarei por momentos de tédio.
O resultado é palpável: 2021 tem sido o ano em que li mais livros desde que tenho memória, a existência deste blog onde estou a publicar este artigo é resultado de algumas dessas leituras, que impulsionaram o meu gosto por escrever, deram-me motivação para por em prática este projeto que procrastinava há anos e, ainda, incentivaram-me a sair da minha zona de conforto de diferentes formas.
Sobre aquela pergunta que fiz lá em cima “Quando entra numa livraria, para qual secção se dirige inconscientemente?”, para mim a resposta é bem óbvia, dou por mim nos livros de neurociência, desenvolvimento pessoal, marketing e branding.
E você, já pensou bem para onde vai quando entra numa livraria? (E não vale responder para a área de tecnologia ou música!)