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Minimalismo não é sobre ter menos coisas

A minha tralha apoderou-se de mim!

Já deitei fora papéis, revistas e recibos velhos, desapeguei de roupas que não tinham mais a ver comigo, vendi livros que não pretendia reler, reduzi tralha, limpei armários e organizei gavetas e prateleiras, do minimalismo à Marie Kondo, apliquei todas as técnicas que encontrei para otimização de espaços pequenos, reduzi a minha tralha a 1/3 ao longo dos últimos 3 anos.

Cheguei ao ponto de, no final da minha gravidez, ter menos de 10 peças de roupa em uso, um verdadeiro armário cápsula, só para não ter que lidar com a pressão de decidir o que vestir todos os dias.


Fiz tudo isso não só por gostar de estar num espaço organizado mas, mais do que isso, para retirar a pressão que ponho constantemente em mim mesma, seja porque tenho que retirar tudo do chão e de cima das superfícies para limpar, seja porque tenho uma casa pequena e sinto-me constantemente claustrofóbica no meio de tantas coisas.

Mas só recentemente dei conta que não são só coisas, isto é, bens materiais, que despoletam situações de ansiedade e stress, e que consumem desnecessariamente a nossa energia, na realidade é algo muito maior do que isso.

É a tralha mental.


Tenho muitos interesses, quero fazer muitas coisas, tenho diariamente uma lista infindável de tarefas que, apesar de fazerem de mim uma pessoa superprodutiva, na realidade são coisas que ficam no caminho do que é verdadeiramente importante e do que realmente importa para mim

Apesar de sentir isso por toda a minha vida, só recentemente consegui por um nome a isso, aspirational clutter, ou tralha mental, numa tradução livre.

Quando comecei esta caminhada pelo minimalismo pensava que desfazermo-nos de coisas físicas, das coisas realmente desnecessárias que já não servem um propósito, fosse a única forma de simplificar a minha vida. Mas estava enganada.

Mas afinal o que é essa tralha mental de que tanto falo?

Bem, para ter uma ideia, neste momento tenho 22 separadores abertos no meu computador. Ao longo dos anos comecei a guardei links dos artigos que gostaria de ler em rascunhos no meu email, mas quando cheguei a ter mais de 500 rascunhos comecei a organizá-los por categorias, mas aí questionava-me porque é que ao invés de ler os tais artigos estava a guardá-los!


Basicamente, a pressão de sentir que quero ler os 20 livros que estão a juntar pó na minha estante, os mais de 1000 artigos que tinha nos rascunhos do email, o desejo de iniciar um jardim, aprender a andar de skate, tocar bateria, escrever um livro, gerir um blog, criar um negócio online, ter aulas de russo, pintar aguarelas, começar uma nova licenciatura, aperfeiçoar cozinha vegetariana, praticar pilates, fazer voluntariado, viver fora, dar aulas, concluir o doutoramento, voltar a desenhar, visitar a Itália e a Grécia, meditar diariamente, retomar as aulas de krav maga e boxe, voltar a jogar The Sims, enfim, por em prática os meus múltiplos interesses, e muito dispersos, estava-me a deixar esgotada.


No fundo, essas são algumas das coisas para as quais não tenho disponibilidade para executar neste momento, e agora sei que nem o devo fazer, porque não são uma prioridade na minha vida no momento presente, pelo menos não todas em simultâneo.


É fisicamente impossível fazer tudo ao mesmo tempo, o que quer dizer que tenho constantemente na minha mente toda essa tralha mental enquanto estou a fazer outras coisas, não estou aqui a falar de coisas físicas, mas de assuntos pendentes que ocupam espaço na minha cabeça, é uma tralha quase que ideológica.

E sei que não sou a única que pensa no que fazer de jantar enquanto tira a loiça do pequeno-almoço, ou medita enquanto revê mentalmente o conteúdo da lista de afazeres laborais, ou vai para a cama e lembra-se de tudo o que deixou pendente naquele dia, ou faz exercício enquanto enumera todos os livros ou séries que quer ler/ver.

Quero realmente incluir todas essas experiências fantásticas na minha vida, mas enquanto não as considero prioritárias não devo integrá-las na minha rotina, se o fizer acabarão por ser só uma pressão acrescida, uma obrigação que, no imediato, não tem espaço na minha vida.


Quero partilhar aqui a solução que encontrei: estabelecer prioridades e integrar uma, duas ou três dessas coisas na lista de tarefa. Basicamente, criar espaço físico e, mais importante, mental, para essas experiências, sem pressa, com alguma planificação, e sem prejudicar outras áreas da vida.


Neste momento, as restantes experiências e interesses estão registados num caderno, onde aponto todas estas ideias que me mantêm acordada noites inteiras. Não pretendo ignorar o entusiasmo de uma nova atividade, de um projeto brilhante e de inspirações exuberantes, continuo cheia de vontade de pô-los em prática, mas substituí o argumento de "não ter tempo", para "não é uma prioridade neste momento".


Excesso de tralha mental distrai-me, tira-me o foco, faz-me sentir que estou a falhar por não conseguir dar o meu melhor, tornando-se desmotivante e stressante e, consequentemente, despoletando episódios de ansiedade.

Tomar consciência dessa tralha mental e, realmente, minimizar aquilo em que nos comprometemos ajuda-nos a concentrar a nossa energia em coisas que efetivamente queremos fazer agora.

Fazer isso traz-me paz, dá-me tempo para fazer tudo o que quero fazer sem o sentimento de obrigatoriedade e urgência.

Fui capaz de aplicar o minimalismo também a minha lista de tarefas diária, reduzindo drasticamente esses itens, há um ano tinha cerca de 30 micro tarefas para executar diariamente, hoje decidi simplificar, reduzir para menos da metade, agora posso dizer a mim mesma que tenho tempo suficiente para fazer tudo o que me propus fazer hoje.


E vocês? O que consideram tralha mental?

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